Por Eduardo Bastos
CEO do Instituto Equilíbrio
O agronegócio brasileiro tem um papel central na segurança alimentar global e na economia brasileira. Estabelecido como um gigante na produção de alimentos, o próximo capítulo dessa história não é somente sobre produtividade – é sobre equilibrar a balança entre colheitas fartas, mudanças no clima e posicionar o país como líder global em soluções climáticas aplicadas e políticas públicas inovadoras.
A transição para uma agropecuária de baixo carbono e regenerativa representa uma das maiores oportunidades estratégicas para o Brasil.
O País já conta com instrumentos concretos para impulsionar práticas sustentáveis no campo com ganhos para o setor. Linhas de crédito verde no Plano Safra, que oferecem juros diferenciados; pagamento por serviços ambientais na preservação de biodiversidade e água; expansão dos mercados de carbono — tanto via offsetting (que permite que setores externos ao agro compensem suas emissões investindo em áreas rurais) quanto insetting (que fortalece a descarbonização dentro da própria cadeia produtiva) — estão criando novas rotas de valorização para produtores e empresas comprometidas com um modelo de desenvolvimento que equilibre de forma responsável prioridades econômicas e ambientais.
Produtos de baixo carbono já estão conquistando espaço no mercado internacional, com ganhos reais de valor. É possível conectar a preservação dos recursos naturais e prosperidade sustentável de maneira estratégica. Como? Vendendo, por exemplo, um insumo diferenciado que habilita outro país a produzir algo que acaba agregando valor à cadeia inteira.
Já temos exemplos tangíveis, como a venda da soja que é usada como ração para salmões na Noruega. Outro exemplo: os produtores do sul de Minas, que estão ganhando o equivalente a três ou quatro sacas a mais por hectare por oferecerem café carbono zero a marcas que investem na compra de insumos com menor pegada de CO2 em vez de créditos avulsos no mercado.
Importante lembrar que estudos mostram que, quando os preços são equivalentes, a maioria dos consumidores prefere produtos com apelos de sustentabilidade. Por isso, mecanismos como incentivos tributários ou linhas de crédito específicas podem equalizar custos e acelerar a transição.
Hoje, o insetting tem se mostrado uma estratégia mais vantajosa e eficiente, com maior retorno imediato para o produtor. O sistema garante rastreabilidade, divide o valor entre todos da cadeia e ancora metas corporativas de emissão zero em resultados reais no campo. Em setores como pecuária, mais de 90% das emissões vêm da produção primária – ou seja, sem o engajamento do produtor rural, não há produto baixo carbono possível.
Do lado da ciência, o Brasil tem expertise para liderar. O desafio agora é adaptar os sistemas de medição, reporte e verificação (MRV) à realidade tropical — garantindo a integridade dos créditos de carbono e sua valorização nos mercados internacionais. As técnicas regenerativas não só contribuem para a resiliência climática, mas aumentam a resiliência da produção e protegem a renda do produtor. Iniciativas como o cultivo de cobertura, o aumento da biodiversidade do solo e a recuperação de pastagens degradadas têm efeitos diretos na produtividade e podem ser aceleradas com apoio técnico e financeiro.
Também é necessário garantir uma nova regulação, com políticas públicas específicas, que possibilitem a aplicação das melhores soluções adaptadas ao cenário brasileiro.
Com incentivos corretos e políticas públicas inovadoras, o produtor rural está pronto para ser protagonista de uma nova revolução global no campo — e o Brasil pode se tornar não somente um líder na segurança alimentar, mas também em segurança climática.